top of page
  • cafeborromeano

Desconstruindo Mitos do Sofrimento: O Papel Transformador do trabalho psicanalítico

Por Regiane Gubeissi, Denise Clésia e Renan Chamorro


O paciente busca um profissional com um pedido de ajuda, cada profissional recebe esse pedido de uma forma específica a partir da sua abordagem. Se o paciente busca um psicanalista, sua solicitação não será atendida prontamente, o analista pedirá para que ele fale mais sobre esse pedido.

Alguns pacientes podem procurar um psicanalista pedindo que ele os ajude com uma decepção amorosa. O psicanalista, ao receber esses pacientes, pede para que eles falem mais sobre isso. Um deles revela que a decepção amorosa o faz sofrer pois a perda da pessoa amada elimina a possibilidade de constituir uma família conforme as expectativas de seus pais. Outro, atendendo à solicitação de falar mais, conta que o sofrimento está ligado à se ver reproduzindo o papel de personagem abandonado que sua mãe ocupava na relação com o pai. Um terceiro paciente revela que seu sofrimento está relacionado à busca constante pelo reconhecimento e afeto de um parceiro que o abandonou, associando-o à sua necessidade de preencher o vazio causado pelo abandono de seu pai na vida familiar.

Um dos efeitos do trabalho do analista é ajudar o paciente a sair de um modo de compreensão em que ele culpa outra pessoa por tê-lo decepcionado amorosamente ou por ter-lhe feito quaisquer outros males. É função da ação psicanalítica fazê-lo perceber que é a forma como ele interpreta a situação que o leva ao sofrimento, e que essa interpretação é influenciada pelas experiências pessoais e únicas vivenciadas por ele.

Podemos perceber nos exemplos acima como cada um tem um mito a respeito do que lhe aconteceu. A queixa é a mesma, porém a interpretação é individual. Ao longo das sessões, o analisante vai questionando suas concepções já dadas sobre a origem de seu sofrimento. Com a ajuda do analista ele vai construindo um novo entendimento que inclui sua responsabilidade diante do que se queixa

Para melhor elucidar por quais caminhos o analisante vai construindo novas formas de compreensão sobre seu sofrimento, tomemos como exemplo um recorte do texto de Platão, O Menôn. Neste diálogo descrito por Platão, Sócrates conversa com um escravo e o interroga sobre a solução de um problema matemático. Inicialmente de maneira intuitiva e inocente, o escravo acredita saber a resposta. Porém, conforme Sócrates continua interrogando o escravo, este percebe que na verdade não sabe a solução e passa assim, a se esforçar para construir a resposta correta, tendo êxito nessa busca. Sendo assim, Sócrates faz com que o escravo perceba que de fato possui um saber sobre o problema, mas diferente do saber intuitivo e inocente que acreditava ter anteriormente.

Assim como Sócrates questiona a resposta inicial do escravo com relação ao problema matemático que ele tem diante de si, o analista interroga a forma de compreensão inicial que o paciente tem em relação ao seu problema de vida e, tal como o escravo, o analisante passa a duvidar do seu saber e construir um novo entendimento. O que era uma simples culpa do outro poderá durante a análise se transformar num saber mais elaborado sobre o que se passa.



59 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page